Olá! Este é um assunto interessante, pois muitos pacientes me perguntam qual a causa da inflamação no couro cabeludo quando detectada durante a consulta. Ela pode ser visível ou não a olho nu, mas muitas vezes precisamos de aparelhos que fazem aumento de até 400 vezes para que possamos visualizar essa inflamação. Para entender o porquê, vamos estudar um pouco a anatomia e fisiologia da pele.
A pele é inervada por uma rede de fibras nervosas que têm inúmeras funções além da transmissão de impulsos nervosos (como acreditava-se antigamente). Através de neuro-hormônios e neuropeptídeos (hormônio melanócito estimulante, peptídeo CGRP, substância P, fator de crescimento neural entre outros) produzidos pelas fibras nervosas ou pelas próprias células de pele, há uma reação que pode ser positiva fortalecendo e regenerando a pele ou negativa causando vermelhidão, edema, dor ou prurido. Isso vai dependender da quantidade e qualidade das substâncias produzidas. Estas substâncias atuam nos nervos da pele; mas atuam também nas células da própria pele:
- Nos Ceratinócitos que são responsáveis pela estrutura, proliferação e renovação da pele;
- Nos Melanócitos que são responsáveis pela produção de melanina e pigmentação da pele;
- No Sistema Imune (Linfócito T, B e Monócitos) que é responsável pela pela proteção, inflamação e regeneração da pele;
- Nos Vasos da Pele que são responsáveis por levarem nutrientes e oxigênio para o metabolismo celular e as células de defesa, e para a superfície da pele, protegendo-a contra micro-organismos patogênicos e participando da regeneração e/ou cicatrização da mesma quando lesionada.
Neste texto, tentei resumir e simplificar a informação para que todos pudessem entender. No entanto, ao estudarmos cada uma destas moléculas e células nos livros de dermatologia, tricologia, neurofisiologia, bioquímica e biologia molecular nos deparamos com uma quantidade enorme de mecanismos e influências; todos muito complexos para que eu descreva em um único texto.
Vimos que há uma comunicação e interação intensas entre as células da pele, folículo piloso, vasos e nervos por meio de impulsos elétricos, sinalização molecular e expressão das proteínas. O resultado dessa comunicação é variável e individual. O comando é dado pela forma como nosso corpo está acostumado a viver ou sobreviver. Ou seja, quando estamos bem, saudáveis e em equilíbrio, essas mensagens são positivas e favorecem a saúde capilar. Quando estamos descompensados ou doentes, nosso organismo volta todas as suas forças para a sobrevivência poupando os órgãos vitais (questão de prioridade) em detrimento dos cabelos. O que aliás, a meu ver, é uma decisão muito sábia de nosso corpo, pois ele opta por favorecer o que é realmente importante para sobrevivermos!
Espero ter ajudado vocês a entender um pouco mais sobre a inflamação da pele e do couro cabeludo e o quanto esta questão pode influenciar de forma positiva (na renovação e replicação do folículo piloso proporcionando alongamento ou espessamento do fio) ou de forma negativa (provocando afinamento, queda, inflamação, dor, prurido e até mesmo destruição do folículo piloso).
Já dizia Aristóteles “A vida é movimento”
Portanto, se não há movimento, não há vida! E assim funciona o folículo piloso que está sempre em constante atividade, movimento e transformação. Entender e atuar de forma positiva nesses mecanismos é fundamental para ter um cabelo bonito e saudável!
Referências Bibliográficas:
- Ansel, JC Skin-Nervous system interactions – J. Invest Dermatol 1996
- Neuropetides in Skin – Br J Dermatol, 1993
- Brain SD: Sensory neuropeptides in the skin, in neurogenic inflammation, 1996, pag. 229