CORTICOIDE: HERÓI OU MOCINHO?
Se não o mais prescrito, com certeza, o corticoide é um dos medicamentos mais prescritos dentro da área da dermatologia e tricologia. Ele serve para muitas situações – diria que é quase um coringa, pois trata diversas patologias, sinais e sintomas, como por exemplo, irritações, queimações, prurido, dor, inflamação de qualquer origem e pode ser utilizado também como imunossupressor. Por isso, ele faz parte do tratamento de doenças mais simples, como alguns casos de dermatite seborreica, passando pelas dermatites de contato, atópica até doenças autoimunes como alopecia areata, líquen plano pilar e alopecia fribrosante frontal.
O que é corticoide? Para que serve? Quais os efeitos colaterais?
Geralmente, o corticoide serve para tratar doenças inflamatórias ou autoimunes. É um medicamento que possui várias classes, tipos e potências. Pode ser utilizado tópico (creme, pomada, gel, loção, shampoo) ou via oral. Cada uma possui sua indicação específica, forma de usar diferente e com risco de complicações, portanto, deve ser prescrito por médicos.
No entanto, não é o que acontece na prática. Seu uso é indiscriminado, vendido sem receita médica, sendo comum a automedicação. Com frequência, atendo pacientes que fizeram uso tópico crônico (por muito tempo) sem acompanhamento regular com o médico e acabaram tendo algumas complicações como atrofia importante da pele, formação de muitas telangiectasias (vasinhos), sensibilidade local, efeito rebote (piora do problema quando para de usar o medicamento) e, inclusive, alterações laboratoriais sistêmicas (mesmo quando seu uso foi tópico).
Você poderia me perguntar: “Dra., não quero utilizar o corticoide, pois sei dos possíveis efeitos colaterais. Há outra alternativa para meu tratamento?”
Depende da situação. Como minha preferência sempre é optar, na medida do possível, por tratamentos que condizem mais com a fisiologia do corpo, que possuem o mínimo de efeitos colaterais, posso dizer que o corticoide, muitas vezes, não é minha primeira opção. Graças à tecnologia, hoje contamos com vários ativos que possuem resultados semelhantes aos corticoides, mas que não são corticoides. São chamados de “corticoide free” ou “corticoide-símile”. Eles atuam modulando e/ou bloqueando diversas citocinas e interleucinas que participam do processo inflamatório e imunológico (que estão intimamente interligados). Podem ser considerados anti-inflamatórios naturais, auxiliando também no processo de cicatrização e regeneração da pele.
Acho uma ótima opção para quem quer tratamentos mais naturais, em crianças e idosos, em locais onde a pele é mais sensível. Dependendo do quadro, é necessário associar outros recursos e técnicas para alcançar o resultado desejado.
Se existe uma alternativa, por que os corticoides ainda são prescritos e utilizados?
Porque, dependendo da intensidade, gravidade e tempo de evolução, essas alternativas ainda não são suficientes. Em alguns casos, o corticoide faz-se necessário. Tento utilizá-lo o menor tempo possível, faço um desmame (retirada da medicação) bem lento e vou adicionando os outros ativos para prevenir efeito rebote (piora) na retirada e, principalmente, evitar recorrências. Os resultados têm sido muito bons e as recorrências diminuíram muito. Nós, médicos, sabemos que, quando a doença não tem cura definitiva, a diminuição na frequência e na intensidade da crise já são excelentes resultados.
Espero que tenham gostado. É um assunto muito extenso e um tanto complexo. Voltarei nesse tema mais vezes.
Caso conheça alguém que ficaria feliz em saber que esse programa existe e poderia ajudá-lo de alguma forma, compartilhe!
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